domingo, 28 de novembro de 2010

Há 10 anos, o Boca Juniors reconquistava o Mundo ao vencer o Real Madrid

Em 28 de novembro de 2000, 22 anos após o seu 1º título mundial de clubes
 conquistado em 1978, sob o comando técnico de Juan Carlos Lorenzo, o
 ‘Boca Juniors de Carlos Bianchi’, derrotava o Real Madrid em Tóquio, no
 Japão, e conquistava o 2º título mundial dos 3 triunfos intercontinentais re
gistrados na gloriosa história deste clube argentino.
Após provar com a bela campanha na Libertadores, em que conquistou a competição
 em cima do Palmeiras, o Boca Juniors tinha um duro desafio pela frente, o tão temido
 Real Madrid.
O contexto extra-campo
O português Luis Figo, que concorria com Zidane e Rivaldo pelo título
de melhor jogador do mundo, estava se transferindo para o Barcelona
, grande rival do Real Madrid.
O último clube sul-americano a conquistar um título do mundial interclubes – denominação
 usada no Brasil – havia sido o também argentino, Vélez Sarsfield, em 1994, ao
 bater a equipe italiana do Milan, por 2 a 0.
Os 5 campeões posteriores ao Vélez, e anteriores ao título obtido pelo
 Boca Juniors em 2000, foram clubes europeus. Ajax da Holanda, em 1995;
 Juventus da Itália, em 1996 ( River Plate foi vice nesta edição); Borússia
 Dortmund da Alemanha, em 1997; o espanhol Real Madrid, em 1998 e os
ingleses do Manchester United, em 1999.
Aquele badalado time do Real Madrid de Casillas, Hierro, Roberto Carlos,
Figo e Raul, além de ter conquistado o mundial interclubes dois anos antes
, em 1998, já havia conquistado naquele mesmo ano de 2000, antes da fina
l frente ao Boca Juniors, o título da Liga dos Campeões da UEFA – temporada
1999/2000, ao vencer o também espanhol, Valência, pelo placar de 3 a 0 no
Stade de France, em 24 de maio e no âmbito nacional, iria se consagrar campeão
 espanhol na temporada 2000/2001.
O Boca Juniors chegava ao Japão na liderança do torneio Apertura correspondente a
 temporada 2000/2001. O time xeneize conquistou aquele Apertura somando 40 pontos,
 três a mais que o seu maior rival, o River Plate, que com 37 pontos terminou com o
 vice-campeonato.
Martín Palermo, que deixou sua marca de goleador duas vezes no arco defendido por
 Iker Casillas, goleiro e capitão da seleção espanhola campeã do mundo na África do
Sul neste ano de 2010, terminou aquele Apertura argentino, com 11 gols e dividindo a
 vice artilharia da competição com Bernardo Romeo do San Lorenzo e atrás do ‘millonario’,
 Juan Pablo Angel, que assinalou 13 gols.
O zagueiro Walter Samuel, importante jogador na conquista da Copa Libertadores
daquele mesmo ano, já havia se transferido para a equipe italiana da Roma,
 e em seu lugar, Carlos Bianchi escalou o zagueiro/lateral, Aníbal Matellán. E o novo
camisa 6 do Boca Juniors, além de ter participado decisivamente no magnífico passe
‘Riquelminiano’ que deu a Delgado na jogada que culminou com o 1º gol xeneize na
 partida, foi um marcador implacável do português Luis Figo, pelo lado direito do ataque
merengue. A bela atuação de Matellán foi recordada com ênfase por Carlos Bianchi,
nesta semana de comemorações dos 10 anos daquele histórico título mundial interclubes.
Bianchi relembrou esta semana que o natural titular naquela temporada em que o clube
avançava em direção ao título do Apertura 2000, era Daniel Fernando Fagiani, lateral
esquerdo que havia jogado a temporada 1999/2000 pelo clube espanhol Valência, e 
contratado
 para ser o 1º substituto do ex-titular, Rodolfo Arruabarrena,que já havia se transferido 
para o
 também espanhol, Villareal.
Porém, com base nas irregulares atuações de Fagiani no campeonato argentino, dias 
antes do
 importante jogo em Tóquio, ‘el Virrey’ – que até hoje faz questão de elogiar a qualidade
 do j
ogador – optou por recuar o camisa 13 Traverso para a zaga, nomear Serna para o posto
 de
 volante central, e escalar Matellán na lateral esquerda, tirando a titularidade de Fagiani.
Diego Maradona, que já havia comparecido ao estádio do Morumbi na cidade de São Paulo
, para comentar a final da Copa Libertadores para uma empresa de jornalismo argentina,
foi proibido de pisar em solo japonês, devido ao processo que respondia na justiça, em
virtude de seu envolvimento com drogas. Porém, perguntado sobre a partida entre Boca
e Real Madrid, Maradona disse que a equipe de Carlos Bianchi deveria explorar a deficiência
 do time madrilenho em bloquer jogadas aéreas, principalmente porque o clube xeneize 
contava com o camisa 9 Martín Palermo, um grande finalizador neste tipo de jogada.
Um Boca Juniors objetivo e eficiente construiu título em apenas 6 minutos de partida.
Juan Roman Riquelme, começou a peleja se movimentando bastante na cancha – problema
para os lentos volantes madrilenhos – buscando o lado esquerdo do ataque xeneize, desta
 forma atraindo a marcação de Makelele. Ao realizar esta tarefa tática, Riquelme contribuiu
para a criação de espaços por dentro da intermediária defensiva da equipe espanhola. O
 zagueiro Hierro, ao adiantar seu posicionamento para tentar diminuir os efeitos da ausência
de um Makelele mais centralizado na tarefa de marcação, permitiu com que o atacante
argentino, Marcelo Delgado, se posicionasse as suas costas, entre o camisa 4 e capitão do
Real Madrid e o camisa 18, Karanka.
Por sua vez, o lateral direito Geremi, ao se posicionar mais a frente da zaga, para encurtar
o espaço de ação do camisa 10 xeneize pelo lado esquerdo do ataque argentino,
 também possibilitou ao Boca Juniors aumentar as suas possibilidades de penetração
 pelo lado direito
 da defesa merengue.
Foi justamente neste cenário tático, que o camisa 6 e lateral esquerdo argentino Matellan,
em bola recuperada por um lateral madrilenho mal batido, fez belo lançamento para o camisa
16, Delgado, que nas costas de Hierro, fez a diagonal em direção a bola lançada sobre o
 lateral Geremi, que auxiliado por Makelele, vigiava de perto Riquelme, nas proximidades da
 linha que divide o gramado. O atacante Marcelo Delgado dominou a pelota livremente pela
 ponta esquerda e cruzou a meia altura para Palermo, que chegava à pequena área pelo lado
direito, se antecipou a Karanka e a Roberto Carlos, abrindo o marcador no estádio Olímpico
Nacional de Tóquio, aos 2 minutos de partida.
A marcação forte e atenta dos argentinos provocando o lateral mal aproveitado pela equipe
espanhola no lance que originou o 1º gol do Boca Juniors naquela decisão, compromete a
tese de que é ‘comum’ as equipes levarem alguns minutos para fazerem a leitura tática do
adversário e se ajustarem em campo, para a partir daí, tomarem iniciativas ofensivas e
defensivas. O Boca Juniors demonstrou naquela partida – desde o 1º segundo de jogo –
objetividade, verticalidade e iniciativas de marcação para induzir o adversário ao erro.
Sem dar chances de reação ao time dirigido por Vicente Del Bosque, 4 minutos após
 marcar o seu 1º gol, a equipe do Boca Juniors, deu uma pequena demonstrou ao mundo
de sua intenção tática e capacidade técnica para induzir o adversário ao erro de passe,
 tomar-lhe a bola e tramar contragolpes letais através dos criativos pés de Juan Roman
Riquelme, característica esta que começou a construir desde a chegada de Bianchi em
98 e que foi se consolidando ao longo das primeiras décadas do século XXI, com os
inúmeros títulos que conquistou, dentro e fora da Argentina.
Mais um lateral a favor do Real Madrid. Desta vez, pelo lado esquerdo do ataque madrilenho.
 Roberto Carlos é marcado de perto pelo volante Sebastian Battaglia, que aperta a marcação
, impede o prosseguimento da notória e perigosa jogada em projeção do brasileiro, intercepta
 a segunda alternativa do camisa 3 merengue que seria um passe em profundidade, e cede o
lateral. Em mais uma cobrança induzida ao erro, em virtude da boa marcação executada pelo
 volante central e camisa 5, Maurício Serna auxiliado por José Basualdo, volante pelo lado
esquerdo, o camisa 6 da equipe espanhola, Ivan Helguera, teve a bola quitada por Basualdo
 que rapidamente, em dois toques, serviu a Riquelme, que apenas ajeitou a pelota para o pé
 direito e fez um maravilhoso lançamento do meio da sua intermediária defensiva até as
proximidades da meia-lua do Real Madrid, a feição do goleador Martín Palermo, que
ganhou na corrida de Geremi, e de frente para Casillas, com apenas um toque na bola,
acertou certeiro chute de canhota, no canto esquerdo do goleiro espanhol, decretando
 dois gols de vantagem no marcador em apenas 6 minutos de bola rolando.
Mesmo tendo diminuído o marcador um pouco depois, aos 12 minutos do primeiro
 tempo, através da sua forte jogada pelo lado esquerdo, com a decisiva participação do
lateral brasileiro Roberto Carlos, o Real Madrid, ainda que tivesse reforçado e ampliado
suas fortes jogadas agudas pelo seu setor esquerdo de ataque, com a entrada no 2º tempo
 do também brasileiro, Sávio, ex-Flamengo, não conseguiu transformar o volume de jogo que
criou por aquele setor para reverter o nocaute tático e técnico que sofrera de forma precoce
para uma decisão de Copa daquele porte.
A equipe argentina, principalmente o lateral Ibarra e o volante Battaglia, muito exigidos no
combate a Roberto Carlos e Sávio pelo setor direito da intermediária defensiva xeneize,
conseguiu administrar a natural pressão que se seguiu na partida, promovida, pelo muito
bom time do Real Madrid e a partir da 2ª metade da etapa final, equilibrou as ações de jogo,
 manteve o perfil tático inicial de exercer uma marcação compacta após o grande
círculo central, foi administrando o tempo restante de partida, desacelerando o
 jogo adversário para consolidar a vantagem no marcador até o apito final do ár
bitro Oscar Ruiz e lograr uma histórica e gloriosa conquista. O título de campeão
mundial interclubes, do ano de 2000.
Diagrama tático correspondente aos primeiros 10 minutos de partida
BOCA JUNIORS 2 X 1 REAL MADRID - Por Renato Zanata Arnos
Perfil tático daquele ‘Boca Juniors de Bianchi’, entre 1998 a 2000
1 – Esquema tático:
Carlos Bianchi organizou o seu Boca Juniors a partir do 4-4-2, com variações
para o 4-3-1-2 e o 4-3-3, mas independentemente de se preocupar em apurar nos
treinamentos o desenho tático de sua preferência, Bianchi sempre que pode, f
az questão de mencionar uma frase que o define bem como treinador: “A atitude é
 mais importante do que o sistema”.
Bianchi afirma que se pode escolher qualquer desenho tático, mas a atitude de jogo, a
 forma como o time irá desenvolver seu futebol na cancha é fundamental para o êxito de
 uma equipe. A escolha de qual atitude tomar no campo de jogo deve ser de
responsabilidade do treinador, responsável por nomear bons jogadores – estes,
estão acima de tudo, segundo Bianchi – que unam inteligência, qualidade técnica e
 espírito coletivo. O treinador deve transferir aos seus comandados, a sua própria
personalidade. Valorizando em 1º lugar, os interesses do grupo e não as individualidades,
 por mais diferenciado – craque – que venha a ser um ou mais jogadores do elenco.
Quanto a esta questão, Bianchi tem outra reveladora ‘frase de cabeceira’:
”A individualidade pode salvar a equipe um dia, enquanto que a equipe 
pode salvar a individualidade todos os dias”.
Carlos Bianchi deixa claro não gostar de esquema tático com 3 zagueiros, ao responder
 perguntas de torcedores, em chat na internet, realizado neste mês de novembro.
Pergunta do torcedor argentino, Guillermo:
- Porque en el futbol argentino, y en especial en los equipos grandes les cuesta
 jugar con el 3-4-1-2 ??
Resposta de Carlos Bianchi: 
- Guillermo, y yo te pregunto a vos: por que en los equipos mas grandes del 
mundo o las selecciones de Europa jueguan con cuatro atras? Me lo podes responder?
2 – Organização defensiva:
Time duro na marcação, pois produzia forte combate compactado diminuindo os espaços 
dos adversários, dentro da sua intermediária defensiva. Nas duas partidas válidas pela final
da Copa Libertadores, no ano 2000, o sistema defensivo do Boca Juniors era protegido
 pelo camisa 13 Traverso, posicionado como volante central, mas que possuía também
 uma formação defensiva, e se caracterizava por ser um bom recuperador de bola.
Na decisão do mundial de clubes frente ao Real Madrid, Christian Alberto Traverso
 atuou como zagueiro na vaga deixada por Samuel que já havia se transferido para a
 equipe italiana da Roma.
Uma linha de 4 defensores – e muitas vezes, outra linha de 4 a frente, dentro de um
 ‘fiel 4-4-2’ -, onde os laterais, Hugo Ibarra, pelo lado direito e Rodolfo Arruabarrena, pelo 
lado esquerdo, se projetavam ao ataque, principalmente através de nítidas oportunidades
 ofensivas criadas por eles mesmos em jogadas individuais, após recuperarem bolas em
 seus setores e também em lances de tiros livres cobrados por Riquelme, como por exemplo
, faltas laterais e escanteios, para se aproveitarem da 2ª bola em jogadas ensaiadas 
com os zagueiros
, Walter Samuel e o colombiano, Jorge Hernán Bermudez ou aproveitar os rebotes
 proporcionados pela defesa adversária.
Nas situações em que a equipe adversária estivesse bem postada na defesa,
os atacantes xeneizes é que se apresentavam pelos flancos, como opções para
jogadas laterais ofensivas.
3 – Criação através da recuperação de bola e contragolpes letais:
Ao lado de Traverso, jogava o volante Sebastian Battaglia, também ótimo marcador e
 recuperador de pelota. Apertando a marcação, induziam o adversário ao erro 
de passe, reconquistavam a posse de bola e produziam contragolpes criados e gerenciados
 pela
 visão de jogo e técnica apurada de Juan Roman Riquelme, a habilidade em velocidade
 do camisa 7 Guillermo Schelotto e a ótima definição e oportunismo do típico camisa 9, 
Martín Palermo. No ‘chão’ com Schelotto e na bola aérea com Palermo.



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